quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Primeiro dia em Dhaka

Trim trim! Trim trim! – o telefone do quarto tocou. Abri os olhos com a sensacao de que uma roda de trator tinha passado em cima de mim. Tomei café da manha e liguei para o Grameen Bank para avisar que ja estava aqui. Falei com um senhor chamado Mosleh Uddin, que disse ser o meu coordenador. Ele me explicou – o que eu ja sabia – que naquele dia havia uma greve e os meios de transporte nao funcionariam, apenas os rickshaws, mas tudo bem, pois o Banco ficava na mesma rua do hotel, a apenas umas 8 quadras de distancia. Fui de rickshaw ate la. Sabia que deveria ir ate o 8o andar. No entanto, chegando la, poderia ir para a direita ou para a esquerda. Escolhi direita. Errado, claro! Ate que eu me conseguisse fazer comunicar foram uns 3 minutos, mas me explicaram que o departamento internacional era do outro lado. Ja no departamento internacional um homem, de pe, ao telefone, acenou sorrindo e indicou com a mao que eu esperasse. Alguns segundos depois ele desligou e se apresentou como o Sr. Mosleh, meu coordenador. Sentamos em uma mesa, onde ficamos mais de uma hora conversando sobre varios assuntos, desde futebol ate microcredito, passando por Calcuta, USP e Brasil. Entao ele me deu um material basico para estudo. Comecei a ler. Achei uma metafora escrita pelo prof. Yunus bem interessante. Ele comparava os pobres a bonsais e explicava que os bonsais nao crescem pequenos porque a semente eh doente ou estragada, mas sim porque sao colocados em vasos de flores. A mesma coisa acontece com os pobres: eles sao colocados numa situacao em que nao tem condicao de crescer, entao o que o objetivo do Banco eh tira-los dos vasos de flor e planta-los no solo.
Algum tempo depois o o Sr. Mosleh me chamou e apresentou para os outros coordenadores. Ele disse que, naquele dia, iria almocar em casa, entao que eu fosse para o almoco com o outros dois coordenadores e o responsavel pela informatica. Fui.

Ao entrar no refeitorio, a primeira lembranca que tive foi do bandejao da USP. Por menos de R$1,00 recebiamos um prato, uma cumbuca com vegetais misturados (extremameeeeeeeeente apimentados!!!) e outra com omelete. Sobre as mesas havia bacias de arroz e dhal, que podiamos pegar a vontade. Em bangla, o responsavel pela informatica pediu que trouxessem talheres pra mim. Eu aceitei e decidi deixar pra comecar a comer com a mao (direita, pois a esquerda eh a usada no banheiro) da proxima vez.
Um dos coordenadores me contou que a `intern` dele chega dia 27 proximo, do Uruguai, e me perguntou se o Brasil fazia fronteira com o Uruguai. O outro me contou que o `intern` dele eh um norte-americano que estava no campo com uma intern norte-americana e outra alema. Disseram que Domingo - primeiro dia util da semana – eu iria conhece-los.

Terminado o almoco eles foram tomar cha. Lembrei do pessoal do meu estagio no SG tomando cafezinho do Frans Café. So que o cha era numa `barraquinha` na calcada ali na frente do predio do Banco mesmo. Eles tanto insistiram, que acabei tomando – pelo menos a agua era quente, fervida. Nao me deixaram pagar, apesar de eu ter insistido. “Amanha voce paga!” – disseram. Voltamos para o escritorio e o meu coordenador me levou para conversar com a chefe direta dele, uma senhora meio hiperativa, que nao parava de falar. Ficamos - ela e eu – uns 40 minutos na sala dela, conversando sobre expectativas e Brasil, entre os milhoes de telefonemas que ela recebeu. Quando contei que morava em Sao Paulo ela simplesmente achou o maximo: “Entao devo te oferecer um cafe preto!!!!!” – disse, ao mesmo tempo em que atendia o celular e que, no telefone fixo, pedia que trouxessem café “Preto!!!” – ela enfatizou. Ela ficou tao empolgada assim porque ja foi a Sao Paulo a trabalho, em 1993.

Depois fui falar com a Sra. Nurjara Begun, a pessoa numero 2 do Banco e, tambem, com quem troquei varios emails antes de chegar. Ela trabalha no Grameen Bank desde o comeco, na decada de 70. Fiquei muito emocionada com tudo o que ela me contou.
Ja eram 17h - fim do expediente - e meu coordenador me perguntou se eu me sentia bem de saude e descancada, pra ir para o campo ja no dia seguinte. Respondi que sim e ele riu, dizendo que eu parecia bastante empolgada. Combinamos entao que ele passaria no hotel as 7h30 da manha, para irmos a uma aldeia proxima de Dhaka. Eu disse que queria comprar roupas adequadas e ele, entao, pediu que o mensageiro dele - um rapaz muito simpatico - me acompanhasse ate a loja de roupas ali mesmo no predio do Banco.
Chegando la, escolhi um Sawar Kameez - roupa de 3 pecas -, provei e todos os funcionarios da loja vieram falar que tinha ficado otimo e eu parecia uma tipica bengali. Paguei, agradeci e tomei um richshaw de volta ao hotel.
Depois de tomar banho, fui procurar um computador com internet e descobri que tem no hotel mesmo. A conexao eh meio lenta e tem fila pra usar - isso tambem tinha em Calcuta -, mas pelo menos era `gratis`.
Enquanto escrevia o ultimo post deste blog, um homem comecou a puxar assunto. Ficamos conversando e ele me perguntou se nao queria acomapanha-lo no jantar, num restaurante chines logo embaixo do hotel. Aceitei o convite.
Conversamos bastante durante o jantar. Ele eh de Honk Kong - a familia dele nao eh de la, mas nao sei da onde eh -, e ele tem negocios em Dhaka. Esta neste hotel ha 2 meses, entao me deu algumas dicas, como pedir para algum funcionario jogar o conteudo de um spray contra mosquitos no meu quarto antes de dormir e que tem uma sala de ginastica.
Depois de bem (?) alimentados, ele perguntou se eu nao gostaria de, na noite seguinte, ir com ele e mais uma amiga jogar sinuca, fliperama e comer fast food num lugar aqui perto do hotel. Disse que a pricipio sim, se nao estivesse morta de cansaco. Despedimos e fomos dormir.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

letícia!!!
nossa... que tudo!... bem... vc realmente está em outro mundo, ne?
olha... espero que tudo continue dando certo!
mtas saudades de vc!
bjuuu

8:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

r é pessimo

8:11 PM  

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