Letícia Bengali

quarta-feira, maio 24, 2006

Dia das Maes

Como estou em divida de escrever sobre a minha experiencia no GB e como o dia das maes acabou de passar, resolvi escrever a historia de Nurjan.

Nurjan, Beggar Member do centro #6 da Branch de Ashkapur - Dinajpur, Grameen Bank, Bangladesh

Nurjan nasceu na India e tem onze irmaos e nenhuma irma. Seu pai trabalhava transportando diferentes coisas em um carro-de-boi. Era uma ehpoca dificil e de muita pobreza. Aos sete anos de idade, quando se casou com um homem de vinte e dois, veio para Dinajpur - hoje norte de Bangladesh, mas na ehpoca parte do Paquistao Oriental. Nao sabe se ainda tem algum parente vivo, pois perdeu completamente o contato com eles.

O marido era empregado na casa de outras pessoas, entao ela tambem morava la. Os patroes tinham que lhes dar tres refeicoes diarias, mas as vezes nao davam. Ela nao era empregada da casa, entao trabalhava vendendo leite de porta em porta, carregando arroz ou na propria plantacao, quando era ehpoca, mas nao lhe pagavam em dinheiro, apenas com comida. O marido tambem trabalhou em outras casas e este foi o trabalho que ele teve desde que se casaram ate sua morte, ha vinte e sete anos.

Durante a Guerra de Independencia, ja com tres filhos, foi com o marido para a India. Em 1971, ano da Independencia, o filho mais velho tinha 12 anos. Depois da Guerra ela ainda teve mais sete filhos. Dos dez filhos que teve, tres ainda estao vivos. Nenhum deles foi a escola.

O filho mais velho trabalhava como ajudante de fazendeiro, cuidando de vacas de outras pessoas. A filha mais velha, que a ajudava, casou-se aos dez anos de idade. Nurjan nao deu nenhum dote para este casamento, pois nao tinha dinheiro, apesar de ter mendigado de porta em porta por alguns trocados para este proposito.

A casa onde mora eh do marido da filha, com o neto e tambem seus outros dois filhos vivos, que sao rickshaw pullers. Dormem todos na mesma cama, mas a comida eh separada. Nao podem se ajudar muito, pois estao todos struggling.

Ha dois anos, por influencia de outras pessoas, Nurjan tornou-se membro do Grameen Bank num programa especial chamado Beggar Member, em que nao sao cobrados juros pelos emprestimos. Ela tomou TK 600 (USD 8,5) para comprar galinhas. Vendia os ovos para pagar as 48 prestacoes semanais. Quando terminou de repagar tomou TK 2.000 (USD 28,5) para comprar uma cabra. Toda semana ela paga TK 45 (USD 0,64) de prestacao. Seu outstanding loan ainda eh de TK 1.165 (USD 16,64) e ela tem TK 301 (USD 4,3) na poupanca. Ela nao soube dizer quanto tinha na poupanca, mas mostrou-me o livro do Grameen Bank. Ela so sabe que tem algum dinheiro depositado e que vai usa-lo para comprar comida quando estiver realmente faminta e sem opcao.

Por causa do emprestimo do Grameen Bank ela quase parou de mendigar e espera faze-lo em breve e tornar-se membro comum, tomando um Basic Loan.

Durante cinco dias na semana, nao se preocuca com a divida que tem, mas quando faltam apenas dois dias para a reuniao semanal em que tem que pagar, ela vende ovos. Se o dinheiro nao eh suficiente, mendiga. Se ainda nao tem a quantia necessaria vende uma das galinhas ou da suas coisas para os visinhos como garantia para tomar algum dinheiro emprestado deles. Depois, quando lhes paga, devolvem suas panelas e roupas. Houve uma semana em que ela nao conseguiu o dinheiro para pagar o emprestimo. O gerente do centro disse para que ela tentasse conseguir da proxima vez e deixou uma linha em branco no livro, prorrogando a data final de quitacao da divida em uma semana.

Nurjan nao lembra ha quanto tempo ouviu falar do Grameen Bank pela primeira vez, mas foi ha muito tempo. Ela memdigava de porta em porta. Viu a movimentacao das mulheres membros do Banco e perguntou para os vizinhos de que se tratava. Mas nunca teve a oportunidade de tornar-se membro, ate que o programa para mendigos comecou, ha 4 anos atras. Os vizinhos encorajavam-na a entrar como mendigo-membro, mas ela dizia que nao, que se parasse de mendigar gostaria de ser empregada na casa de alguem em troca de refeicoes. No entanto, viu que algumas outras mulheres entraram no programa e melhoraram um pouquinho sua precaria condicao. "Talvez mude minha vida" - pensou. Ela nao entende muito das prestacoes e das diferencas entre ela e as membros convencionais, so sabe que paga menos que as outras.

Ela se diz muito feliz com o Grameen Bank, pois agora tem uma cabra gravida que vai ter um filhote que ela pode vender, alem de algumas galinhas e ovos. "Eu posso inclusive comer um ovo de vez em quando misturado com arroz e antes eu passava ate dois dias sem comer nada!" - exclamou.

Sua filha tambem ja foi membro do Grameen Bank. Dez anos atras ela tomou um emprestimo para comprar um rickshaw para o filho - com o qual ele ganha a vida ate hoje -, pois o marido era paralitico e nao podia trabalhar. Com a morte do marido ela cancelou sua 'membership', mas ha seis meses resolveu voltar a ser cliente do Banco, apenas com poupanca.
Sobre sua saude, disse que eh boa. As vezes tem dor de cabeca e sua visao nao funciona perfeitamente, mas nunca teve nenhum problema grave. Contou que o filho mais velho morreu de alguma doenca grave que nao sabe o nome; o outro tomou veneno e o marido morreu de diarreia. "Espero morrer em paz" - disse em lagrimas.
Feliz dia das maes atrasado para Nurjan e outras maes pelo mundo!

terça-feira, maio 09, 2006

Khulna - aventura e diversao!

A cidade natal da familia de Shajal e Shajib (pai do bebe) eh no distrito de Khulna, ao sul de Dhaka. Shajal me convidou pra passar uns dias la com ele e mais dois amigos. Foram quatro dias divertidissimos!!! Ficamos na casa do tio mais novo de Shajal. Havia dois quartos, entao os meninos ficaram em um e eu no outro, dormindo na cama com a tia e o priminho, enquanto o tio dormia em um colchao no chao.

Sexta, as 7 da manha nos encontramos no local de onde o onibus sairia, ja com as passagens compradas. Comentei que, pelo preco – comparando com as viagens que fiz com o Banco, nao com o preco no Brasil -, deveria ser um aviao, nao um onibus. De fato o onibus era muito bom – tinha ar condicionado e se voce apertasse botoes na cadeira o encosto vibrava de diferentes formas, fazendo massagem! A primeira coisa engracada da viagem foi que ficamos conversando e tivemos que correr atras do onibus, quando vimos que este ja tinha saido!

Em Khulna fizemos varios passeios de barco, inclusive um no Rio Rupsha de noite – enquanto a brisa batia no meu rosto, eu olhava o reflexo do luar nas aguas e sentia o primeiro momento nostalgico de comeco de ultimo mes no pais.

Na regiao fica Sunderbans, a maior floresta natural litoranea do mundo. Eu queria muito ir ate la, apesar de todos os parentes de Shajal falarem nao ser a melhor ehpoca, pela estacao das chuvas estar tao proxima e por termos que entrar na floresta de barco. “Nao eh a melhor ehpoca mas pra mim eh a unica oportunidade! Eu quero tentar!” – era o que eu repetia inumeras vezes. Me contaram varias historias, de ciclones, tempestades que comecam de repente nessa estacao e muito mais. “I`m not scared at all” – era o que eu sempre respondia. Um dos meus amigos disse para um dos tios de Shajal: “Ela veio sozinha do Brasil pra ca, veio da India de onibus e voce quer assusta-la falando de tempestade no mar??” Ele estava certo: eu nao estava com nem um pouquinho de medo.

De tanto eu insistir, alugamos uma van pra nos levar ate Mogla, a cidade mais proxima da floresta. No dia combinado o tempo nao estava ensolarado, mas fomos mesmo assim. La alugamos um barco, mas comecou a chover. Esperamos a chuva passar, escutando de todos a nossa volta que nao era a melhor ehpoca. Quando passou, pegamos o nosso barquinho e comecamos nossa viagem pelo Rio. No local em que o rio encontra com o mar, ja dava pra ver o comeco da floresta. Fiquei empolgadissima!

No entanto, de repente, fomos surpreendidos com grandes ondas, que levavam o barquinho para cima e para baixo. Talha, Shawon e eu gritavamos: “IUUUHUUUU!”, achando a coisa divertidissima, enquanto Shajal se apertava mais ainda no cobertor ao qual estava enrolado, por causa do frio. De repente, o nosso guia comecou a gritar com o piloto do barco. Discutiam em bangla. Nao fiz o menor esforco pra tentar entender o que diziam, mas vi a preucupacao em seus rostos. Chegaram a conclusao de que o tempo estava muito perigoso e nao poderiamos continuar. Poderia ate ser que conseguissemos chegar la, mas nao haveria como voltar. Fiquei arrasada e todos perceberam a frustracao em meus olhos, fixos na floresta que se distanciava cada vez mais, no nosso caminho de volta.
Para me consolar, os meninos falaram que se voltarem la vao me mandar as fotos. E combinei com Shawon que quando estiver casada, voltarei no inverno com meu marido e filhos e ele, sua esposa e filhos se juntarao a nos pra desbravar Sundarbans.

No fim, so a aventura em si e ver a cara de medo de Shajal ja foram suficientes pra nos diverter bastante. De la fomos para Bhagerat, onde vimos a mesquita Shatgombuj , famosa por seus sessenta pilares.

Todos os dias tinhamos convites de parentes de Shajal pra almocar, jantar, tomar cha. No fim eu nao aguentava mais ver comida na minha frente!!!

De noite jogavamos cartas ate de madrugada e fofocavamos. Estavamos todos muito ‘free’ uns com os outros. Digo isso porque nao eh comum uma garota fazer este tipo de programa com os garotos. Mas toda a familia de Shajal me adorou e ficaram impressionados com o tanto que me dei bem com os meninos. No fim eu tambem estava incluida nos tapas na cabeca, nos sustos andando pelas ruas escuras quando faltava eletricidade, na pregacao de pecas, nas fotos inusitadas.

Na nossa ultima noite, antes de pegarmos o onibus, me levaram pra ver Kali, a deusa da morte na religiao Hindu. Enquanto andavamos pelas ruas escuras, eles me contavam historias assustadoras que ouviram sobre ela na infancia. Ficaram um pouco frustrados ao perceberem que eu nao estava assustada, mas quase morreram de rir quando comecei a gritar no templo hindu porque uma formiga mordeu o meu dedao do pe e nao queria soltar de jeito nenhum!

Tive que postar sobre essa viagem antes dos dois posts que estao pendentes porque eles queriam ter certeza de que nao vou publicar suas fotos ridiculas, ja que a minha foto dormindo de boca aberta no onibus – deprimente! – esta no celular de Shawon e ele nao tem o cabo pra passar pro computador.
Fotos: 1) Da esquerda pra direita: Leticia, Shajal, Talha e Shawon passeando de barco no rio Rupsha; 2) Leticia, Talha, Shajal e Shawon (atras) andando na ponte Khan Jahan Ali. ; 3) Leticia, Talha, Shom Bhay (primo do Shajal) e Shawon comprando picole (sorvete de palito, pros paulistanos...); 4) Eu no barquinho indo pra Sunderbans, quase congelando, enrolada na "orna" (qual a palavra em portugues pra isso, exarpe?); 5) Eu na mesquita Shatgombuj; 6) Ja que dei uma queimadinha e nao to mais sendo confundida com o branco da parede, a ideia agora eh confundir com o ceu...; 7) Eu e o jacare

quinta-feira, maio 04, 2006

Festival de casa nova


Na volta da viagem de Dinajpur, Rony, nosso interprete, convidou Amy e eu para ‘atrasarmos em um dia nossa chegada em Dhaka’ e irmos para Naogaon, uma cidade proxima, onde seus pais moram. La aconteceria um festival muculmano por conta do termino da construcao da casa nova da sua familia. Aceitamos o convite.
Descemos do nosso onibus antes do destino final – Dhaka – e pegamos um onibuzinho com assentos minusculos e muito proximos, em que nossas pernas mal cabiam, alem de termos que carregar a bagagem no colo. No corredor, varias pessoas viajavam em pe, quase sentando no colo de Amy, que estava do lado do corredor. Cinquenta minutos e muitos olhares curiosos depois, chegamos a Naogaon, morrendo de calor e de vontade de fazer xixi! Nesta viagem eu vi o pior banheiro desde que deixei o Brasil: apenas um buraco, pequeno – sera que eh possivel fazer numero dois ali?

Rony (atras, na primeira foto) esta no ultimo ano do curso de Administracao, em Dhaka. Ele morou tres anos na Australia, para estudar ingles e fazer faculdade. Segundo ele, foi uma vitima do onze de setembro: o governo australiano resolveu cancelar varios vistos e, como Rony perdeu um mes de aula porque teve de vir para Bangladesh por motivo de doenca na familia, sua nostas nao eram nenhuma maravilha, o que deu mais um motivo para que seu visto estivesse na lista. Dessa forma, com mais da metade da faculdade concluida, ele teve a pior experiencia de sua vida, lutando com advogados pelo visto e, frustrado, teve que voltar para Bangladesh e comecar a faculdade de novo.
O irmao estuda Odontologia, tambem em Dhaka. O pai eh medico e a mae dona de casa. No festival – uma especie de bencao -, enquanto os homens liam partes do Alcorao, nos, as mulheres, em outro comodo, com as cabecas cobertas, rezavamos/oravamos para Alla. Era o nosso primeiro festival muculmano e nao estavamos entendendo nada: o que fazer, quando levantar, quando cobrir o cabelo... e Rony estava com os homens! Nossa salvacao foi a priminha dele, de 10 anos, que com seu ingles quebrado e as poucas palavras que sabiamos em bangla, nos ajudou.
Quando iam embora, todos os convidados recebiam uma caixinha com polao (uma especie de arroz) e carne de carneiro. Do lado de fora, dezenas de pessoas pobres esperavam para receber o que sobrasse. No dia seguinte, vimos algumas criancas brincando com as caixas pela rua.
Rony estava muito orgulhoso em nos mostrar toda a casa. Quando nos mostrou o seu quarto, perguntei: "Mas Rony, voce ja nao mora mais com os seus pais! Qual a logica de voce ter um quarto na casa nova, entao?" "Se tudo der certo, quando eu terminar a faculdade volto a morar aqui! Com minha futura esposa e filhos" - disse ele sorrindo e nos encaminhando para ver o quarto do irmao. Contou-nos que o irmao tem uma namorada ha 5 anos. "A familia dela eh de homens de negocio e a nossa eh de medicos. Mas como nossa familia tem boa reputacao na cidade, quando comecaram a namorar, o pai da namorada do meu irmao disse para o meu pai que iria fazer o casamento dela dentro da nossa familia. Eh por isso que ela tambem esta estudando medicina, pra poder interagir melhor dentro da nossa casa" - explicou Rony, dando uma aula pratica de cultura muculmano-bengali. Na hora fiquei horrorizada, imaginando como seria morar na casa da familia do meu marido, tendo que aguentar a minha sogra todo santo dia! Mas hoje, varios dias e experiencias depois nessas terras, eu admiro o tanto que essa cultura da importancia a familia. Ainda quero escrever um post sobre isso.
Conhecemos um amigo de Rony, tambem chamado Rony. Ele eh casado e tem uma filhinha de poucos meses. No momento sua esposa saiu da casa dos pais dele e voltou pra casa dos pais dela, como eh costume aqui apos se ter um bebe. Quando visitamos a garotinha, ele nao permitiu que Rony visse sua cunhada. Rony - o original hehe - estava muito interessado em conhece-la, ha muito tempo. Como nao pode ve-la, logo que saimos de la, olhei pra ele com uma cara de "sorry!!!" e exclamei: "Eh, Rony, ela eh bonita mesmo, viu!?!?!" Entao ele pediu detalhes da fisionomia da moca, que eu dei, fazendo todos cairem na gargalhada.
De noite fomos os quatro - Ronys, Amy e eu - passear pela cidade. Tomamos cafe e sentamos na beira do rio, onde conversamos sobre drogas, sexo e juventude. Conclui que, apesar das culturas serem muito diferentes, ha alguns pontos em comum: jovem eh jovem em qualquer lugar e moita tambem eh moita em qualquer lugar.

terça-feira, maio 02, 2006

Missa de Pascoa



(Este post eh dedicado ao meu pai)

Domingo de Pascoa. Acordei as 7h30: banho, cafe da manha... Precisava ir ao Banco apenas para terminar de planejar minha proxima viagem e de tarde estaria livre pra me preparar, pois passaria 10 dias fora de Dhaka, com o objetivo de acompanhar a abertura de uma nova agencia.

Thereza, uma brasileira que conheci - como eh que eu ainda nao tinha introduzido essa personagem tao importante??? -, havia me convidado pra ir a uma Missa de Pascoa, as 18h, mas ela ainda nao sabia o endereco. No entanto, me ligou no comeco do dia pra avisar que tinha desistido, por nao sentir-se bem. Como eu ja estava com a ideia na cabeca, resolvi, pelo menos, "dar uma passadinha" em alguma igreja.

Liguei pra um amigo bengali e perguntei qual era a igreja crista mais proxima da minha casa. Ele me explicou. Chegando la, para minha enorme surpresa, estava fechada. O guarda na grade nao entendia o que eu perguntava e tambem nao tinha a menor boa vontade pra entender. Por sorte, tres mulheres apareceram: bengalis cristas - uma batista e duas catolicas - que levavam um presente para uma freira que tinha trabalhado com elas como enfermeira no hospital da crianca. Nenhuma falava ingles, mas foi possivel comunicar "toscamente" usando os 4 ou 5 verbos que sabia conjugar e meu vocabulario super-restrito em bangla. Entramos. A partir dai foi mais facil, pois todas as freiras falam ingles - fazem parte de uma congregacao internacional, a da Madre Tereza de Calcuta. Contei-lhes que havia visitado a casa da Madre Thereza na India. Enquanto esperava o padre terminar seu "lanche da tarde" e depois de informada que a missa tinha sido de manha e que a igreja estava fechada para limpeza, uma das freiras - filipina - me levou pra conhecer o trabalho que realizam: 7 freiras cuidam de mais de 100 doentes.

As mulheres que eu havia conhecido preciraram ir embora, mas eu fiquei, pois o padre queria muito conversar comigo. Participei, como "convidada especial" numa sessao de cantoria, em que as freiras cantava para o padre em bangla e em ingles. Quando terminaram fui surpreendida com "o coro" pedindo que eu cantasse uma musica de igreja em portugues. Na hora gelei, claro, pois nao sei nenhuma por completo e nao podia cantar uma musica "nada a ver" pois o padre fala italiano e espanhol e poderia entender alguma coisa. Insistiram tao docemente que acabei cantando os 3 ou 4 refroes que eu lembrei na hora. Ficaram, todas, felicissimas! Uma pegou na minha mao, acariciou e pediu que eu me juntasse a elas. Sorri sem graca - onde enfiar a cara? O que responder? - "Voce eh casada?" "Nao." "Tem namorado?" "Nao". "Entao Reze para Madre Thereza que ela vai te dar o sari azul" - disse ela toda empolgada, explicando que durante os quatro primeiros anos (treinamento) o sari das freiras eh branco, so depois eh que podem vestir o sari com a faixa azul. Nessa hora, por sorte, uma outra freira, mais velha, veio me "acudir" e disse a outra que sou novinha ainda e ainda tenho tempo pra pensar. UFA!

Expliquei para o padre que gostaria de ir a uma missa, de preferencia em ingles, entao ele ligou para alguem e confirmou que haveria uma na regiao de Banani, as 18h, provavelmente a mesma para a qual Thereza - a Brasileira, nao a de Calcuta!!! - havia me convidado. Liguei para Shajal - meu amigo e membro da minha familia bengali, que morou 20 anos em Banani - e perguntei onde, exatamente, fica a igreja catolica la. Ele explicou e disse que estava por perto, pedindo que eu "desse um toque" quando chegasse ou caso tivesse qualquer problema de localizacao - quem me conhece sabe que nao sou a melhor pessoa do mundo pra achar lugares, ainda mais quando nao ha placas nas ruas e quando tudo esta escrito em bangla.

O padre queria que alguem me acompanhasse ate a outra igreja. Neguei a oferta. "Voce sabe que este eh um pais muculmano, muito perigoso para as mulheres??? - perguntou uma das freiras, tentando me convencer a aceitar. Como nao tive escolha, um ex-seminarista simpatississimo me acompanhou. De la liguei para Shajal. Ele e Shawon vieram me encontrar. Convideio-os para participar da cerimonia.

Na igreja, a maior concentracao de estrangeiros que ja vi em Bangladesh!!! Era a primeira missa de meus dois amigos muculmanos. Eles tinham muitas duvidas que, por sorte, eram basicas o suficiente pra eu saber responder. A unica coisa que nao entenderam de jeito nenhum foi o por que de eu nao ter entrado na fila da hostia.

Ao fim da missa, como sao muito gentis, me acompanharam ate em casa. No caminho rimos e comentamos que, da mesma foram em que eles ja haviam me levado a varios lugares pra conhecer a cultura muculmana e a historia de Bangladesh, agora fora minha vez de proporcionar-lhes esta nova experiencia!

Feliz Pascoa atrasada!


Fotos: Shajal e alguns de seus amigos estao esperando resultados de universidades e comeco de aulas, ou seja, tem bastante tempo livre pra me levar pra passear: 1) "Lara pulling the rickshaw pullers in Jahangirnagar University!!!" - como disse um amigo; 2) Eu no memorial-Savar, em homenagem a 7 herois mortos na Guerra de Independencia; 3) Em Old Dhaka, da direita pra esquerda: Tania (Namo do Shawon), Shawon, Shajal, Lara e Sahma; 4) Shajal e eu andando de elefante no zoologico - nao sao tao disponiveis como na India, mas ja andei aqui porque la me custaria o "olho da cara". Como eh? Acho que o mesmo que andar a cavalo, um cavalo obeso, claro; 5) Lara, Samah e Shajal passeando de barco no Buriganga River.